Postagens

Mulheres Negras: moda e respeitabilidade

Imagem
  Alberto Henschel. Mulher de turbante, c. 1870. Rio de Janeiro, RJ / Acervo IMS   As escolhas de vestuário foram essenciais para as mulheres negras após a emancipação dos escravizados. Roupas e acessórios foram, e ainda são usadas por elas como veículo para o debate antirracista. O tráfico e a escravidão fizeram com que as escravizadas perpetuassem a identidade africana por meio de tecidos como “panos da costa”, e adereços, como miçangas e búzios comprados em navios vindos diretamente da África. Esses usos explicitam escolhas estéticas que marcaram a identidade visual de mulheres negras, haja vista as roupas de “baianas”. Mas essa imagem da mulher negra, escravizada ou liberta, vestida com grandes saias engomadas e turbantes, não covinha à sociedade racializada depois da abolição. Após 1888, foi primordial o uso de um vestuário que corroborasse a realidade de mulheres livres, modernas e sobretudo dignas de respeito. Isso porque o escravismo autorizou homens brancos a en...

Grace Kelly e os vestidos de noiva atuais

Imagem
  Grace Kelly e príncipe Rainier III - 1956   O casamento de Grace Kelly e o Príncipe Rainier III parou o mundo, no dia 19 de abril de 1956, sendo transmitido pela TV e assistido por milhares de pessoas. Hoje, em posse do Museu de Arte da Filadélfia, o vestido criado pela designer Helen Rose ainda serve como referência para diversas noivas que buscam um visual clássico e elegante. Com mangas compridas, rendas, gola alta e uma grande saia em recorte “A”, o vestido é reflexo de uma época em que dominava o estilo “ladylike” – cujo principal traço é a cintura marcada e mangas levemente armadas. Logo, o vestido de Grace Kelly passou a servir como inspiração para as noivas mais clássicas. Porém, durante a década de 1960, a revolução jovem e a inovação do prêt-à-porter passaram a influenciar as noivas com vestidos mais minimalistas, deixando o modelo utilizado pela atriz de lado. O estilo “princesa” aparece novamente nos anos 2000, sendo visto na união de Kate Middleton e o...

Helen Rose e os vestidos de noiva

Imagem
Grace Kelly em seu vestido de noiva – 1956   Helen Rose foi uma figurinista, nascida em Chicago no dia 2 de fevereiro de 1904, onde estudou na Academia de Belas Artes e se mudou para Los Angeles, em 1929, onde foi contratada pela Lester Costume Company e se tornou responsável por desenvolver trajes para a vaudeville, gênero de entretenimento popular na América do Norte, nos anos 1930. No início dos anos 1940, passou a fazer figurinos musicais para a 20th Century Fox e, em 1943, foi contratada como designer chefe na MGM. Trabalhou no estúdio até 1966 e, durante o tempo que esteve lá, foi responsável por vestir atrizes como Elizabeth Taylor, Deborah Kerr e Lana Turner, consagrando-se como uma das poucas mulheres a se tornar designer chefe de um grande estúdio de cinema. A figurinista foi indicada oito vezes ao Oscar, ganhando duas delas. No mesmo ano que deixou a MGM, a designer abriu seu próprio negócio e ganhou destaque na criação de peças para a alta sociedade e artistas...

Desfile ou Teatro?

Imagem
  Alexander McQueen fall 1998 collection “Joan”   Nascido nos conjuntos habitacionais de Londres, Lee Alexander McQueen rapidamente ganhou notoriedade como o Enfant Terrible da moda britânica devido às suas inspirações transgressoras e obsessão pelo conceito vitoriano. Tendo como objetivo marcar o espectador, seja por meio do fascínio, seja pelo asco, com sua forte personalidade enraizada no planejamento de cada peça. Após alguns anos de aprendizado e aperfeiçoamento técnico na Savile Row, McQueen começou a trabalhar na produção de figurinos para peças teatrais como "Os Miseráveis" e "Miss Saigon". Essa experiência no mundo das artes cênicas inspirou o estilista a criar coleções eletrizantes, com uma forte teatralidade e narrativas detalhadas. Ele criou desfiles intertextuais com atmosferas que geravam diferentes sensações, atraindo a atenção da mídia e gerando opiniões divergentes a cada nova temporada. Sempre buscando tensionar os limites entre moda e arte...

“Quem Ama Não Mata”: Construindo uma vítima “culpada”

Imagem
     Alice com a mãe após almoço de família Em 12 de julho de 1982 estreava a minissérie Quem Ama Não Mata no horário das 22h, na Rede Globo de Televisão, dirigida por Daniel Filho e Dennis Carvalho e escrita por Euclydes Marinho. A obra narrava a história de Jorge (Claudio Marzo) e Alice (Marília Pêra), um “mineiro machão” e uma dona de casa submissa que, entre segredos e omissões, têm um final trágico. Apesar da apropriação do slogan que surgiu em protestos na cidade de Belo Horizonte e da temática do feminicídio, a minissérie não se apresenta como uma produção feminista, deixando evidente que Alice também era culpada por sua morte. O figurino de Alice é construído a partir de signos da feminilidade tradicional. Dona de casa em tempo integral, ela é graduada, mas não trabalha fora. Seu maior sonho é engravidar, mas não consegue – Jorge é infértil e mantém isso em segredo – e se considera menos “mulher” por essa razão. Além disso, é submissa e não dá um passo sem...

Moda, cultura e identidade no Renascimento do Harlem

Imagem
  Crianças negras brincando nas ruas do Harlem na década de 1920 Você sabe o que foi o Renascimento do Harlem e o que esse movimento tem a ver com a moda? No início do século XX milhares de afro-americanos migraram do sul dos Estados Unidos, onde as leis segregacionistas impediam que vivessem plenamente sua liberdade conquistada, para o norte do país. A cidade de Nova Iorque era um dos destinos mais populares escolhidos por esses migrantes negros que se estabeleceram no bairro do Harlem. No Harlem uma população diversa, que incluía trabalhadores não qualificados e uma classe média educada, compartilhava experiências comuns de escravidão, emancipação e opressão racial. A convivência de diferentes mentes criativas proporcionou o surgimento do Renascimento do Harlem (Harlem Renaissance), um movimento que defendia a autodeterminação dos negros e abria espaço para que as histórias, desejos e aspirações destes fossem expostas no meio artístico. Na música, o jazz e o swing embalavam...

Renascimento da tatuagem nos EUA

Imagem
    Lyle Tuttle trabalhando A produção e o lugar social da tatuagem contemporânea possuem vínculos relacionados ao contexto dos Estados Unidos, da segunda metade do século XX. É nesse período, marcado por revoluções tecnológicas, sociais, artísticas e culturais, que ocorre o “Renascimento da Tatuagem”. Jovens entusiastas, oriundos de instituições de formação artística, inserem-se no campo da tatuagem, incorporando dinâmicas que acarretaram o desenvolvimento de novos estilos e práticas comerciais. Estes jovens artistas tatuadores foram responsáveis pela definição da criatividade como um novo paradigma para o campo em detrimento das preocupações técnicas que marcavam a produção artesanal anterior. Possuíam grande interesse estético pela produção de tatuagem oriental e da América do Norte nativa. Em meio a interesses pelo misticismo e pelo exótico, os olhares ocidentais também identificavam o refinado processo estético japonês que de forma sofisticada compreendia toda a exte...