Uma história moral da aparência

 

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Maestro de la Virgen de los Reyes Católicos. La Virgen de los Reyes Católicos. 1491-1493. ©Museo Nacional del Prado. 


As considerações morais sobre os modos de vestir-se e maquiar-se foram recorrentes ao longo da história. Durante a Idade Média, a aparência de homens e mulheres deveria pautar-se pelos valores cristãos, como a modéstia, a simplicidade e a honestidade.

Preocupados com os eventuais danos corporais, temporais e espirituais que as vestimentas e os enfeites pecaminosos – por míngua ou excesso – poderiam trazer à pessoa, à família e à comunidade mais ampla, muitas autoridades castelhanas estabeleceram leis e regras quanto ao modo conveniente, proveitoso e cristão de as pessoas cuidarem de sua aparência. Além de determinar a qualidade e a quantidade das roupas, essas normativas contemplavam desde a difusão de virtudes e a recriminação dos pecados e vícios por meio de admoestações até a imposição de sinais vísiveis nas roupas e de penas pecuniárias, açoites e degredos.

Embora ambos os sexos recebessem críticas quando suas vestes eram curtas, longas ou caras em demasia, ou quando não respeitavam o seu estado, isto é, seu lugar no mundo, foram as mulheres as mais visadas nas prescrições e leis dadas pelas autoridades eclesiásticas e leigas do reino de Castela entre os séculos XIV e XV. Isso se explicava por serem associadas a excessivos cuidados com os cabelos, as pinturas faciais e as novas formas de vestir.

Pelo fato das vestes serem um símbolo da riqueza familiar e pelo vínculo incontornável do estado da mulher ao do marido ou pai, muitas restrições legais aos seus vestidos acabavam por englobar esses homens.

No livro Vestidas e afeitas para serem virtuosas: as mulheres na Castela dos séculos XIV e XV (EdUFSCar, 2017), procurei realizar uma história moral das roupas e dos cuidados com a aparência, esmiuçando os valores e os vícios a serem combatidos por meio de leis e regras. Apesar de não ser propriamente uma história da moda, compreender esse quadro de valores permite-nos conhecer melhor as escolhas que foram feitas em determinado período, bem como o impacto delas na sociedade ocidental ao longo da história.

Por Thiago H. Alvarado, @paleografiaiberica


Para saber mais:

BERNÍS MADRAZO, Carmen. Indumentaria medieval española. Madrid: Instituto Diego Velázquez del Consejo Superior de Investigaciones Científicas, 1955.

BERNÍS MADRAZO, Carmen. Trajes y modas en la España de los Reyes Católicos. Madrid: Instituto Diego Velázquez del Consejo Superior de Investigaciones Científicas, 1978-1979. 2 v.

GONZÁLEZ ARCE, José Damián. Apariencia y poder: la legislación suntuaria castellana en los siglos XIII-XV. Jaén: Universidad de Jaén, 1998.

MARTÍNEZ MARTÍNEZ, María. Indumentaria y sociedad medievales (ss. XIII-XV). En la España medieval, v. 26, p. 35-59, 2003.


MARTÍNEZ MARTÍNEZ, María. La creación de una moda propia en la España de los Reyes Católicos. Aragón en la Edad Media, n. 19, p. 343-380, 2006.

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