Bibba-Ipanema e a expressividade da moda
No Brasil, a década de 60 ficou marcada pelo início da ditadura militar e por um maior engajamento de parte da população, principalmente os jovens, em questões políticas e sociais. Nesse cenário, o bairro carioca de Ipanema acabou se estabelecendo como um local de liberdade, de contracultura e também de famosas butiques.
A Bibba-Ipanema (1966-1983), de José Luiz Itajahy, foi um dos estabelecimentos da região que mais se destacou no período. A partir de estampas com frases de impacto, vitrines com conteúdo ideológico-político, camisetas unissex e um aberto posicionamento contra o uso do sutiã, a butique constantemente divulgava mensagens através da moda. Assim, ela foi considerada por muitos como a loja mais revolucionária do bairro.
Através de seus jeans tacheados, calças de bolinhas, chapelões, tamancos de cortiça e camisetinhas justas, o estabelecimento também acabou sendo considerado como o precursor do estilo underground no Brasil. Além de ter sido a primeira butique carioca a iniciar a prática de estampar o logotipo da marca no exterior das peças.
A Bibba contava com uma forte influência estrangeira, principalmente de butiques como a Mic-Mac em Saint-Tropez e sua homônima, a Biba londrina. A loja costumava importar muitas peças do exterior, porém elas eram constantemente adaptadas para um cenário brasileiro, levando em conta o clima e a situação atual do país.
Uma das peças de Itajahy que mais se destacaram foram os terninhos desbotados femininos, lançados em um período onde mulheres vestindo calças ainda eram proibidas de entrar em alguns ambientes. Na época, seu fornecedor se negou a desbotar os tecidos, então ele mesmo confeccionou as peças, as tingiu e mergulhou em água sanitária.
Itajahy se aproveitou da força do bairro de Ipanema para vender moda. O próprio ambiente da loja era envolvido por uma aura de liberdade, com grandes almofadas distribuídas pelo chão, túnicas e vestidos pendurados no teto e colares espalhados pelos cantos. Assim, durante seus 17 anos de funcionamento, a marca fez tanto sucesso que chegou a contar com uma rede de 11 lojas, dentre elas a Bibba Man e a Bibba Kid.
ACERVO O GLOBO. Busca: “Bibba Ipanema”. Disponível em: https://acervo.oglobo.globo.com/busca/?busca=Bibba+Ipanema. Acesso em: 27/08/2021
BILA, Fabio Pessanha. Memórias das lutas pela liberdade: Ipanema da contracultura ao movimento anti-homofobia. ANPUH: XXV SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA. Fortaleza, 2009. Disponível em: https://anpuh.org.br/uploads/anais-simposios/pdf/2019-01/1548772188_c5a622968b5c465c25010bc63b0ce748.pdf. Acesso em: 27/08/2021
SECURATO, Tuila Pessôa. A apropriação sociocultural do ''ser carioca''como fonte de diferenciação competitiva sob o ponto de vista empresarial em marcas de moda do Rio de Janeiro. 2019. Dissertação (Mestrado) - Escola Superior de Propaganda e Marketing. Programa de Mestrado Profissional em Comportamento do Consumidor, 2019.
SERNAGIOTTO, Renata. Butiques de Ipanema. Antenna Web: Revista digital da IBModa. São Paulo, n. 2, p. 13. Disponível em: https://www.antennaweb.com.br/edicao2/artigos/pdf/artigo2.pdf. Acesso em: 27/08/2021.
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