Queer no figurino de Little Women de Greta Gerwig
O aspecto tomboy no vestuário da personagem Josephine March
A adaptação de Little Women dirigida e roteirizada por Greta Gerwig foi lançada em 2019, e a figurinista responsável foi Jacqueline Durran, que levou a estatueta de Melhor Figurino no Oscar de 2020. Um dos grandes diferenciais dessa nova versão do clássico escrito por Louisa May Alcott é o viés feminista abordado em questões como: casamento como proposta econômica, alistamento militar, début na sociedade, maternidade, liberdade criativa, entre outras.
A personagem principal, Josephine March, interpretada por Saoirse Ronan, é a segunda de quatro irmãs que sonha em ser uma grande escritora, mas que precisa escrever sob pseudônimo masculino para obter algum tipo de reconhecimento e renda para ajudar sua família, que não é abastada e cujo patriarca está atuando na Guerra Civil Americana. Assim, a essência da personagem é de rebeldia e esse aspecto pode ser muito bem observado nos costumes utilizados.
Com uma abordagem moderna, que mistura períodos e evoca sensações, a figurinista ignora espartilhos e escolhe para uma Jo “tomboy”: vestidos largos de algodão, saias simples de lã, coletes masculinos, camisas com gola e peças com ares de seriedade, trabalho, militarismo e que priorizam movimentação ao invés de restrição. A fluidez expressada através dessas roupas constrói uma aura queer, que sempre foi especulada pelos leitores. Afinal, Louisa nunca se casou, além de ter afirmado que só casou Jo por pressão do público e que ela mesma já se apaixonou por várias mulheres.
Outro personagem que contribui para o fator queer do filme é Theodore Laurence, interpretado por Timothée Chalamet. Laurie usa camisas de tecidos esvoaçantes, gravatas com ares artísticos e elementos como babados delicados e vitorianos, considerados femininos. Ele e Saoirse trocam roupas ao longo da película, como um colete. Na visão de Gerwig, a liberdade que ambos possuem permite que seu vínculo tome a forma de almas gêmeas sem gênero em vez de um romance heteronormativo, favorecendo ambiguidades e um quê de androginia.
Por Mateus Saraiva, @mateuspsaraiva
Para saber mais:
BATISTTI, F. P. Moda e figurino: unilateralidade. Primeiro Encontro de Paranaense de Moda, Design e Negócios, Maringá, 2009.
FLORA, Ana Paula Ireno Di. O olhar feminino no cinema contemporâneo: uma análise de Adoráveis Mulheres, de Greta Gerwig. 2020. 109 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Comunicação Social)—Universidade de Brasília, Brasília, 2020.
GUBERNIKOFF, Giselle. A imagem: representação da mulher no cinema. Conexão – Comunicação e Cultura, UCS, Caxias do Sul, v. 8, n. 15, jan./jun. 2009.
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