Performances Mitológicas e a Moda Drag Queen

 

Presença de elementos neoclássicos e egípcios no ambiente e na roupa de Asia O’Hara


Seguindo com a proposta de estudar a presença do mundo antigo na moda, nós do Antiga e Conexões, grupo de estudos vinculado à UFPR, passamos a analisar a existência de tais traços da antiguidade no mundo Drag Queen. Para isso, partimos das concepções acerca do potencial de exteriorização individual propiciado pelas vestimentas. Junto a isso, adotamos como entendimento da performance, atrelada ao vestir-se, o reconhecimento da subjetividade e da espontaneidade performativa, aliada à vivência das exteriorizações pessoais propiciadas pelas indumentárias. 

Com isso em perspectiva, dirigimos a nossa atenção ao ato performático e suas relações com a ação e a consciência corporal. Assim, com base na produção de Butler, afirmamos a construção de identidades e sua associação com as corporeidades em um processo de atribuição de caracteres de gênero aos indivíduos. Entendidos como padrões comportamentais criados e recriados socialmente, é nesse campo, então, que encontramos as atuações transgressoras e ironizadoras de suas postulações normativas. Nesse caso, as formas Drag de subversão aparecem como uma possível  evocação irônica do passado “clássico”, grego e romano, a exemplo do caso de construção da promoção da quinta temporada do reality RuPaul Drag Race, concurso norte-americano de drag queens. 

Em sua composição, visualizamos a “banalização” das noções de um passado clássico, ao passo que é apresentado junto a aspectos cotidianos. Além disso, é notável como elabora as temáticas mitológicas greco-romanas, egípcias e de outros povos antigos em uma perspectiva futurista. Por essa forma, o mundo das performances Drag Queen surge como um grande espaço de criticidade de recuperação da antiguidade, (re)vestindo-se de elementos modernos, os quais se tornam os indicadores de seus discursos conscientemente disruptivos em relação às normas e padrões sociais de gênero. 

Por Heloisa Motelewski, @helomotelewski/@antigaeconexoes


Para saber mais:

BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Tradução de: Renato Aguire. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.

MILLER, Daniel. Por que a indumentária não é algo superficial. In: _____. Trecos, troços e coisas: estudos antropológicos sobre a cultura material. Rio de Janeiro: Zahar, 2013. p. 21-65.

SETTIS, Salvatore. The Future of the ‘Classical’. Tradução de: Allan Cameron. Cambridge: Polity Press, 2006.

ZUMTHOR, Paul. Performance e Recepção. In: _____. Performance, recepção, leitura. Tradução de: Jerusa Pires Ferreira e Suely Fenerich. São Paulo: Cosac Naify, 2007. p. 45-60.

Imagem:

DVROSS. Asia O'Hara at RuPaul's DragCon LA 2018. 2018. Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Rupaul_Dragcon_2018-216_(28203467918).jpg>. 

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