Os códigos do figurino da série Andor de Star Wars
Cassian Andor, ilustração de Andrey Ryabovichev
A ideia que roupas formam um sistema de comunicação não é nova, Roland Barthes as analisou nas revistas de moda e nos palcos. Os figurinos de Star Wars nos ajudam a compreender isso, do penteado da princesa Lea às túnicas dos cavaleiros Jedi, aos suntuosos trajes da rainha Amidala criados por Trisha Biggar, constituíram-se signos culturais. A série Andor explora o universo de Star Wars de maneira diferente dos filmes ao tratar a formação da aliança rebelde com uma abordagem a partir da realidade. O caráter político do nascimento da rebelião desponta do proletariado diante da violência policial e do controle burocrático do estado ditatorial. O roteiro excelente é apoiado no ótimo trabalho de interpretação dos atores, sem, no entanto, ser explicativo. O que faz o figurino criado por Michael Wilkinson parte do sistema narrativo, não para ser apreciado isoladamente, mas analisado em suas intenções. Exemplos não faltam. Ao mostrar a infância do protagonista Cassian Andor, vemos uma tribo de crianças enfrentando uma mineradora, a ausência dos pais é apontada nos trajes reaproveitados de roupas de adultos. A opressão do Império é retratada na estética antinatural nos uniformes do órgão de inteligência semelhantes à gestapo e seus quepes. O aspirante de fascista Syril Karn customiza seu uniforme igual aos dos agentes imperiais em gesto definidor do personagem. Também o branco demasiado homogeneíza o ambiente asséptico do presídio com os macacões dos presidiários escravizados que estão descalços visto que são controlados por pisos eletrificados. O foco nas botas dos guardas faz oposição ao destaque dado às luvas dos operários do planeta industrial Ferrix que refletem as tensões da exploração da mão-de-obra. E há também o luxo opressor exibido no arco da senadora Mon Mothma, sufocada pela elite do Império, numa cena abre seus botões em busca de ar. A discreta túnica vermelha da mãe adotiva de Cassian potencializará a irmandade necessária à rebelião. Andor é uma série sobre insurreição popular, conjuntura onde os códigos nem sempre podem ser verbais, mas tem propósito.
Por Flávio Bragança, @flaviobraganca
Para saber mais:
BARTHES, Roland. Inéditos, vol.3: Imagem e moda. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
BIGGAR, Trisha. Dressing a galaxy: the costumes of Star wars. Nova York: Insight Editions, 2005.
FERREIRA, Bruno R. Torres. Fãs do universo narrativo de Star Wars: subjetivação a partir de representações de minorias sociais na nova fase da franquia. Orientador: Prof. Dr. André Luiz Maranhão de Souza Leão. Tese (Doutorado em Administração), Universidade Federal de Pernambuco, CCSA, 2018.
VIANA, Fausto R. Poço; VELLOSO, Isabela Monken. Roland Barthes e o traje de cena. São Paulo: ECA-USP, 2018.
Comentários
Postar um comentário