Os clássicos na moda do funk e do rap - 1: Versace
Chainz em campanha pela Versace. Site oficial da marca
A Versace é uma marca italiana da moda de luxo fundada na Itália em 1978 que traz em sua identidade visual um logotipo bastante conhecido, a cabeça da Medusa. A imagem carrega mundo afora um símbolo que tem origem no mundo antigo. Entretanto, por estar destinada ao mercado de alto valor e a um público de elevado poder aquisitivo, acaba por reforçar a ideia do passado clássico como sinônimo de excelência e superioridade, uma “herança” pertencente à elite.
Por outro lado, tais elementos podem ser totalmente ressignificados quando absorvidos por outras culturas ou grupos de expressão artística, como é o caso do Funk e do Rap. Por se tratarem de gêneros nascidos e desenvolvidos por grupos afro-descentes e de posições mais desfavorecidas socialmente, os artistas retratam com maestria as vivências dos lugares onde cresceram e como conquistaram uma “vida boa” através do trabalho com a música. Nessa visão, a moda é objeto fundamental de tal lógica. Entretanto, é de extrema importância pensar que, a cultura material, para além de uma visão simplista, constitui também o sujeito e o coletivo em suas realidades.
Retomando a Versace, marca muito usada por cantores do Rap e do Funk e que se tornou tema de títulos e letras como em “Colar da Versace” de Mc Hariel e Andressinha ou “Versace” do trio americano de rap Migos, é um símbolo da conquista de um elevado padrão de vida. Entre as indumentárias de destaque da marca está o tênis Chain Reaction, que traz elementos de inspiração antiga como as “chaves gregas”. No Brasil, o cantor MC Davi, um dos mais destacados da cena, traz em seu guarda-roupa 9 pares de diferentes cores e estampas do modelo.
Pensando propriamente na recepção dos clássicos, o uso de marcas como a Versace por artistas de origem subalterna nos propõe uma nítida subversão de um discurso de ordem. Se elementos da antiguidade clássica foram e ainda são matéria de legitimação de relações de poder, quando transportados para outros contextos culturais, são capazes de alterar um modelo hegemônico e atribuir novos significados a estes mesmos itens.
Por Guilherme Bohn dos Santos, @guilhermebohndossantos @antigaeconexoes
Para saber mais:
SETTIS, Salvatore. The Future of the ‘Classical’. Tradição de: Allan Cameron. Cambridge: Polity Press, 2006.
MILLER, D. Trecos, troços e coisas: estudos antropológicos sobre a cultura material. Tradução: Renato Aguiar. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.
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