Os anos dourados de Aniki Bobó

 

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Aniki Bobó, butique de Celina Moreira da Rocha, teve início com vendas no apartamento onde morava com os pais, de vestidos curtos com flores estampadas em esponjado, técnica que aprendeu na Escola de Artes Visuais no Parque Lage.  O sucesso foi imediato, chegando a vender 200 peças em um mês. Com o resultado positivo, a butique passou a ocupar o interior da galeria River, no Arpoador, em 1968.

O cenário do país não era dos melhores, pois ocorria a ditadura militar. Ainda assim, nas postagens e comentários na página do Facebook ‘Aniki Bobó Acervo’ nota-se que para muitos aqueles foram “anos dourados”.

Outras butiques da cidade carregavam o nome de mulheres da elite ou títulos estrangeiros, algo que Celina não queria. Ela então usou o nome de uma brincadeira comum das crianças portuguesas que achou em uma revista de cinema.

À medida que a butique ganhava fama, o uso das roupas produzidas por Celina tornou-se uma prova de modernidade, uma vez que traziam sensualidade, criatividade e o que depois viria a ser considerado o ‘estilo carioca’: transparência, corpos a mostra, jeans e peças justas feitos em materiais sofisticados. As roupas também traziam uma valorização dos estilos vindos da literatura, da música, e rompiam com crenças em vigor. Moda jovem e unissex, as roupas de Aniki Bobó carregavam liberdade, novidade e fantasia.

Em Novembro de 1969 a butique muda para a entrada da mesma galeria, e ganha um projeto do decorador Gilles Jacquard, que agrega à loja um visual psicodélico, cromado e sem vitrines, assemelhando-se a uma boate. Na época, usar Aniki Bobó era uma espécie de identidade de grupo social em função dos altos preços, e o espaço se tornou um local de sociabilidade dos jovens.

Depois de anos de sucesso, em 1979 a butique fechou as portas, quando a dona se viu em uma encruzilhada, como ela mesma disse em entrevista: manter a loja como estava e perder espaço no mercado, ou procurar um sócio e investir na expansão. Esse dilema era muito comum na época, como analisa Iesa Rodrigues.

Por Karyme Rabello Fagundes, @karymerabello

 

Para saber mais:

RAINHO, Maria do Carmo Teixeira. Aniki Bobó: Desbunde e psicodelia nos anos de chumbo. Revista UFPR, 2017 

Aniki Bobó Acervo. Facebook. (Acesso em: 30 de ago. de 2021)

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