O vestido de Maria Bonita estava na moda
Vestido de Maria Bonita em mesa da Reserva Técnica do MHN - Foto de Bruno Chiossi – 2019
O vestido de Maria Bonita, parte do acerco do Museu Histórico Nacional, se alinha às tendências da moda internacional das décadas de 1920 e 1930, de nítida influência Art Deco e dos movimentos feministas do período dos entreguerras. Essas tendências se pautaram, principalmente, em um padrão geometrizado em termos de formas, como a estrutura evasê das saias e dos ornatos estilizados. Florais ou geométricos, esses ornatos conferiam o toque “feminino”, inclusive pelo uso de cor sobre os fundos cáqui, como podemos perceber nas gregas e nos ziguezagues, além dos elementos estelares, em soutages, nos bolsos do vestido do MHN. A tendência geometrizante da modelagem de corpetes, saias e mangas mais ajustadas e com menos panejamentos conferia mais mobilidade às novas mulheres que surgiam nos anos 20 e 30, principalmente nas cidades, e mais atuante na sociedade, inclusive como força de trabalho. A diminuição dos tecidos e o encurtamento das saias e das mangas convergiam para as necessidades de uma indumentária feminina (numa divisão sempre binária do que mulheres e homens usam) não somente mais leve, mas também menos dispendiosa, em função da crise econômica mundial que culminou com a quebra da Bolsa de Nova York em 1929.
Em síntese, essa indumentária mais leve e despojada, de linhas retas e simples, compatibilizava-se com a necessidade das mulheres cangaceiras de constantes deslocamentos, num meio adverso como a caatinga. No entanto, podemos depreender que, ao mesmo tempo em que estavam confeccionando trajes mais condizentes com a condição de cangaceiras, na verdade, não deixavam de seguir também, como outras mulheres que não participavam do Cangaço, as tendências internacionais que ditavam a moda no Brasil dos anos de 1920 e 1930. Cabe registrar que as revistas de moda europeias, ou melhor, francesas, comercializadas nos grandes centros brasileiros urbanos, assim como o zíper, chegavam aos Sertões por meio dos mascates e das coiteiras ou coiteiros, muitas vezes, encomendados pelas mulheres e homens do Cangaço.
Por Ana Lourdes Costa, @ana_lourdes2005
Para saber mais:
CARAMMASCHI, Débora. Maria e bonita: beleza, subjetividade e moda. In: FERREIRA, Vera; ARAUJO, Germana Gonçalves de (org.). Bonita Maria do Capitão. Salvador: EDUNEB, 2011.
FARRA, Maria Lúcia Dal. Uma Mulher povoada. In: FERREIRA, Vera; ARAUJO, Germana Gonçalves de (org.). Bonita Maria do Capitão. Salvador: EDUNEB, 2011.
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