O Rasgar da Tecedura Neoclássica por Emma Hart
Aquarela de Emma Hart. REHBERG, Friederich. Too late to see him. 1805.
Propondo-nos a estudar como o mundo antigo se encontra nas criações modistas, nós, do grupo Antiga e Conexões, decidimos por começar nossas análises a partir do contexto neoclássico, entre os séculos XVIII e XIX. Afinal, são esses períodos marcados por uma moda receptora de elementos greco-romanos, introduzida no mundo europeu a partir do foco napolitano setecentista - ao que refletimos sobre uma possibilidade de afiliação ao encontro das ruínas de Pompeia em 1748.
Assim, encontramos os meios pelos quais a moda neoclássica se fundamenta sob a cultura material, usada como base para suas criações estéticas. Como exemplo, encontramos o uso de colunas no vestuário à la grecque. Logo, a nova moda ganharia expressividade nas chamadas “estátuas viventes”, pessoas que agiam de modo a incorporar na vida cotidiana a indumentária de esculturas clássicas. Porém, vale ressaltar aqui o fato de que, como todo movimento receptivo, isso ocorre como uma leitura do passado, adequando-se à atualidade. Portanto, as consideramos como um estilo, ao se mostrar como um caminho de exteriorizar a individualidade a partir das evocações do passado.
Nesses espaços, encontramos, então, a relevância feminina na produção modista neoclássica, seja correspondendo ou rompendo com as convenções sociais. É por essa razão que decidimos iniciar nossas discussões a partir de Emma Hart (1765-1815) – atriz e dançarina inglesa, também foco do texto seguinte. Ao se revestir do mundo antigo, ultrapassava a superfície do vestir-se, inspirando o teatro e a cinematografia. Desse modo, a roupa seria uma peça efetivamente formante da corporeidade. Atuando diante de seus convidados, ela fingia-se alegorias e mitos de Roma e Grécia, servindo de modelo para a atuação de mulheres em seu tempo e após.
Assim, Hart fundou moldes de atuação feminina inovadores, transcendendo os limites das apropriações Neoclássicas do passado greco-romano. Como “estátua vivente”, performava, então, a transgressão da trama social vigente a partir da indumentária.
Por Heloisa Motelewski, @helomotelewski/@antigaeconexoes.
Para saber mais:
BREWSTER, Ben; JACOBS, Lea Acting. In: _____. Theatre to Cinema: Stage Pictorialism and the Early Feature Film. Oxford: Oxford University Press, 2016. p. 65-110.
MILLER, Daniel. Por que a indumentária não é algo superficial. In: _____. Trecos, troços e coisas: estudos antropológicos sobre a cultura material. Rio de Janeiro: Zahar, 2013. p. 21-65.
RHINEHART, Robert. Romans on the Runway: Classical Reception in Contemporary High Fashion. 2021. 86f. Tese (Senior Honor em Estudos Clássicos) – Departamento de Clássicos, University of North Carolina, Chapel Hill, 2021.
ROMERO-RECIO, Mirella. Pompeya: Vida, muerte y resurrección de la ciudad sepultada por el Vesubio. Madrid: La Esfera de los Libros, 2010.
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