O casal Tarsila e Oswald e a moda

Oswald e Tarsila, ela veste o traje “Righi”, da maison Paul Poiret. Fonte: Arquivo IEB-USP, Fundo Aracy Abreu Amaral

A aparência de Tarsila do Amaral é importante para que se compreenda o seu percurso artístico, e é necessário olhar de perto a relação que ela e Oswald de Andrade, seu companheiro entre 1923 e 29, tiveram com a moda francesa, especialmente a casa de alta-costura Paul Poiret, de que foram clientes assíduos. Os próprios modernistas e, depois, a crítica e a história do modernismo, fixaram a imagem de Tarsila como uma mulher bonita e elegante, participante de uma moda de vanguarda, que se vestia de maneira luxuosa e exuberante. Mas, uma vez que o interesse do casal Tarsiwald por Poiret é bastante citado, é importante situar a posição desse costureiro no quadro da moda feminina no entreguerras, de acordo com a perspectiva da alta-costura.

Nos anos 1920, o eixo da inovação se deslocava do ornamento para o corte. A utilização de contrastes de cores, penas e plumas, babados e sobreposições, tafetás e volumes, elementos apreciados por Paul Poiret na criação das roupas, produziram trajes considerados antiquados, excessivamente artísticos e teatrais. Ao mesmo tempo, na segunda metade da década de 1920, Tarsila e Oswald projetaram uma imagem que lidava com elementos relacionados a uma expectativa de exotismo por parte dos europeus. Souberam explorá-la, inclusive, na maneira de construir suas aparências, ao optar por roupas assinadas por um costureiro que tradicionalmente empregava a ideia do exótico em seu trabalho. Além de uma estratégia de validação social, a convivência de Tarsiwald com a maison Poiret reafirma o andamento de suas práticas artísticas. Entretanto, o interesse pela maison Poiret também pode ser interpretado como uma atitude um tanto antiquada, se pensada no contexto das alterações em direção à modernidade ocorridas na alta-costura francesa.

Por Carolina Casarin, @carolina_casarin


Para saber mais:

BONADIO, Maria Claudia. O exótico e a moda brasileira. International Journal of Fashion Studies, Bristol, v. 1, n.1, pp. 57-74, abr. 2014.

BUENO, Maria Lucia. Moda, gênero e ascensão social. As mulheres da alta-costura: de artesãs a profissionais de prestígio. Dobras, São Paulo, v. 11, n. 24, nov. 2018, pp. 102-130.

BOURDIEU, Pierre. A produção da crença: contribuição para uma economia dos bens simbólicos. 3a edição. Tradução Maria da Graça Jacintho Setton. Porto Alegre: Zouk, 2014.

CASARIN, Carolina. O guarda-roupa modernista: o casal Tarsila e Oswald e a moda. São Paulo: Companhia das Letras, 2022. 

DESLANDRES, Yvonne. Paul Poiret. Paris: Éditions du Regard, 1986.

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