Maria Bonita e seus vestidos

 

 Maria Bonita posa para uma das fotos que ajudou a popularizar a personagem histórica. Autor: Benjamin Abrahão Data: 193


Nascida em 1911, em Malhada da Caiçara/BA, a mais conhecida mulher do Cangaço, Maria Gomes de Oliveira cresceu como Maria de Déa, em referência ao apelido de sua mãe, Maria Joaquina Conceição de Oliveira ou Dona Déa. Mulher, nordestina, sertaneja, como cangaceira levou uma vida nômade, foi perseguida pelas volantes e assassinada, em 1938, no episódio conhecido como Cerco de Angico, em Sergipe. Depois que morreu entrou para a história como Maria Bonita. 

Sobre a materialidade que compõe a vestimenta de Maria Bonita, algumas passagens da vida e da morte, e até a construção de memórias da cangaceira, estão ligadas, de diferentes maneiras, aos seus vestidos - nada de extraordinário, se considerarmos que somos uma sociedade vestida, que faz da roupa uma forma de comunicação - que, a propósito, descobre o peito de corpos masculinos, mas encobre os de corpos femininos. 

Antes de 1930, ano que entrou para o Cangaço, Maria foi descrita usando “[...] um vestido barato, de chita ordinária, marcado de cores berrantes, costurado a moda de como costuram as mulheres de fins de rua das cidades pequenas”. (GOIS apud ARAÚJO, 1984, p. 174-175). Relato, vale ressaltar, que apresenta a face escancarada de uma sociedade marcada pela inferiorização das mulheres, neste caso, das mulheres sertanejas.

Em 1935 foi alvejada nas costas por um tiro, pois o vestido branco que usava chamou a atenção para a mira que a baleou. Em 1936, foi fotografada e filmada por Benjamin Abrahão usando diferentes vestidos. Quando morreu “Maria trajava um vestido de gurgurão de sêda cor de cinza.” (notícia do jornal Diário de Pernambuco, em 02 de agosto de 1938). Além desse vestido, quando assassinada, levava, em seu bornal, o vestido cáqui, com soutages vermelhos e zíper, usado nas domingueiras (festas organizadas pelo Cangaço que acontecia aos domingos, com missa, dança e outros momentos), hoje, parte do acervo do Museu Histórico Nacional.

 Por Ana Lourdes Costa, @ana_lourdes2005


Para saber mais:

ABREU, Regina. O vestido de Maria Bonita e a escrita da História nos museus. Anais do Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro, v. 34, p. 189 – 194, 2002.

ARAUJO, Germana Gonçalves de. Aparência cangaceira: um estudo sobre a aparição como aspecto de poder. 2013. Tese (Doutorado) – Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências da Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2013.

CHAGAS, Mario de Souza; SANTOS, Myrian Sepúlveda dos. A vida social e política dos objetos de um museu. Anais do Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro, v. 34, p. 195-220, 2002.

FERREIRA, Vera; ARAUJO, Germana Gonçalves de (org.). Bonita Maria do Capitão. Salvador: EDUNEB, 2011

MOREIRA, Jailma dos Santos Pedreira. Sob a luz de Lampião: Maria Bonita e o movimento da subjetividade de mulheres sertanejas. Salvador: EDUNEB, 2016.

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