Luiz de Freitas, "lembranças da África" e pan-racialismo

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"Lembranças da África" na moda carioca


Luiz de Freitas, conhecido por revolucionar o conceito de moda masculina no Brasil na década de 1980, é hoje menos conhecido por estabelecer ligações com a ideia de uma herança africana e ideais políticos relacionados com o antirracismo. No entanto, vestígios desta ligação podem ser encontrados ao longo da sua carreira.

Em 1984, a primeira menção de África nas suas colecções foi registrada na imprensa quando estampas multicoloridas – conhecidas como "lembranças da África" – serviram de base para o desfile Verão/84 da Mr. Wonderful. Em 1984 realizou-se no Rio o 1º Encontro Internacional de Artes Negras "Kizomba", reunindo delegações musicais do Congo, Antilhas Francesas, Cabo Verde, Moçambique, Angola, Nigéria, Cuba, Guiana e artistas exilados da África do Sul. Nesse mesmo ano, o Rio recebeu militantes de organizações libertárias africanas que se juntaram com grupos musicais locais para unir forças num quadro de internacionalização da luta contra o racismo, e o desfile de Verão/84 juntou-se nessa moção.

Em 1994, Luiz de Freitas apresentou a sua colecção pessoal de chapéus mostrando sua simpatia com as ideias do pan-racialismo. Em novembro desse ano, lançou a sua segunda colecção de moda inspirada na África utilizando têxteis da Costa do Marfim, Gana, Nigéria e Tunísia que tinham sido trazidos para o Brasil pela empresa Balafon dirigida pelo escritor e sambista Haroldo Costa e a sua esposa Mary Marinho. Nesse ano, não por acaso, Nelson Mandela tomou posse como Presidente da África do Sul, o último bastião formal de regimes racistas radicais como o Apartheid. A África esteve presente em numerosas agendas criativas nesse ano.

Em 2007, após doze anos de ausência Luiz de Freitas reapareceu com um desfile intitulado "Welcome Back Mr. Wonderful - Black is Beautiful / White is Wonderful", aludindo ao slogan do movimento Black is Beautiful que surgiu nos EUA no interstício dos anos 60 e 70.

Esses eventos chamam a atenção para outros aspectos, menos explorados, da carreira profissional e do trabalho criativo de Luiz de Freitas, um ponto necessário tendo em conta que ele é considerado o primeiro estilista negro no Brasil a ser reconhecido a nível nacional e internacional.

Por Julimar Mora Silva, @julimarmsilva

 

Para saber mais:

Imprensa: 

Domingo [Revista do Jornal do Brasil], Coroa da alma universal. Na Índia, Nova Iorque ou no Rio o Chapéu que virou moda "panracial" pelo Fernando Gerheim, 17 de abril de 1994, ano 19, n. 937, p. 29.

Jornal do Brasil, Tecidos africanos que vestem a roupa carioca, 12 de novembro de 1994, caderno B, p.10.

Capítulo de livro:

MORA SILVA, Julimar; SILVA, Rosangela de Jesus. Fernanda, O verbo etc., e tal: o de cómo la trayectoria de una diseñadora afrobrasileña cuestiona la historiografía de la moda desde el Sur Global. Em: SILVA, Rosangela de Jesus; GERALDO, Endrica (Orgs.). Histórias transnacionais: O Sul Global em perspectiva. Naviraí: Aranduká, 2021, p. 95-114.

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