Integralismo, mulheres e moda


“Nos anos trinta, a tendência fascista se adaptou aos moldes brasileiros e originou a Aliança Integralista Brasileira (AIB). Enquanto movimento político de extrema-direita, o fascismo tupiniquim buscava um elemento mais amplo ao agregar mulheres, crianças e negros. Dentro da ideologia, o “novo homem” integralista necessitava de uma “nova mulher”, ou seja, aquela que exprimisse os valores do movimento e do lema central “Deus, Pátria e Família”. Tal inserção feminina oferecia às mulheres uma oportunidade de voz em meio a uma política predominantemente masculina. Assim, sua ação política se dava sobretudo no ambiente doméstico; seu papel se dava na preservação do cristianismo, da família e dos filhos contra os caminhos inadequados, o comunismo. Era ela a responsável por criar e educar o indivíduo integralista de amanhã. Plínio Salgado, líder do movimento, afirmava que a maternidade era uma função moral e lamentava a igualdade de gênero promovida pela modernidade. Cabe ressaltar o contexto do voto feminino em 1932 e os diversos movimentos feministas em ascensão. Por isso, era mais que necessário incluir as mulheres e direcionar suas forças para a assistência social, saúde, educação e também ao trabalho de arregimentação e doutrinamento de jovens e crianças. Diante do caráter unificador da indumentária integralista e o emprego da camisa-verde como símbolo sagrado do movimento, as mulheres, denominadas blusas-verdes, deveriam seguir as regras de vestimentas como os homens. Fazendo sempre o uso de roupas produzidas nacionalmente, elas deviam usar além da camisa de brim ou algodão verde, uma saia preta ou branca. O uso da gravata preta lisa era facultativo às moças. Nos casamentos, evento importantíssimo que unia o rito tradicional cristão ao protocolo complementar da AIB, as regras de vestimentas eram mantidas. Todos os homens membros deveriam fardar o verde e as mulheres poderiam usar o tradicional vestido branco na igreja. Caso a cerimônia civil fosse realizada em algum núcleo da AIB, as noivas deveriam fazer o uso da blusa-verde. A indumentária, portanto, além de um elemento de identificação e unidade, era uma das maiores expressões da crença ao movimento integralista.”

Por Larissa Frazão, @larissafrazaos


Para saber mais:

FERREIRA, Lilian Tavares de Bairros. A imprensa feminina da Ação Integralista Brasileira: algumas funções políticas e sociais das Blusas-Verdes representadas na revista Brasil Feminino. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 29., 2017, Brasília, DF. Anais [...]. São Paulo: Associação Nacional de História, 2017. p. 1-16.

GONÇALVES, Leandro Pereira & CALDEIRA NETO, Odilon. O fascismo em camisas verdes: do integralismo ao neointegralismo. 1. ed. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2020.

LIMA, Nabylla; QUELUZ, Gilson. “Ela é uma criatura de deus e é mulher? : determinismo biológico e determinismo tecnológico nas obras de plínio salgado. 2011. In: Iv simpósio nacional de tecnologia e sociedade. Brasil.

SIMÕES, Renata Duarte, SIMÕES Ricardo Duarte e SILVA Ticiana Ribeiro da. "Mulheres integralistas: enfermeiras "blusas-verdes" a serviço da nação". Texto & Contexto - Enfermagem 21, n. 1

VIEIRA, Samuel M., GONÇALVES, Leandro P. Plínio. Com que roupa eu vou?!: as roupas como elemento unificador da ação integralista brasileira. CES Revista, v. 24, 2010, p. 175-184.

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