"I'm not okay (i promise)"

 

 Screenshot do videoclipe da música “I’m Not Okay (I Promise) da banda My Chemical Romance, 2004


“Eu não estou bem!” 

A frase gritada com agonia pelo vocalista da banda My Chemical Romance, em 2004, foi uma das mais importantes para a construção da discussão a respeito da expressão das emoções e cuidados com a saúde mental que o emo trouxe.  No rock, o tema não era novo, mas essa música, tratava do assunto de forma direta, visceral e estourou nas rádios e programas de TV, abrindo espaço para discussões sobre o tema. Mas por que isso importa? Porque o emo, junto com seu lápis de olho preto e franja cobrindo metade do rosto, trouxe também uma nova possibilidade de expressão da masculinidade. 

Em geral, as culturas contemporâneas não costumam ser muito receptivas a homens emotivos, há uma certa expectativa a respeito do que se espera do comportamento de um homem, e infelizmente a afinidade pelo emocional não está incluso no pacote. No ocidente as emoções são consideradas um fator relevante quando analisamos as concepções que temos de gênero e sexualidade, e como a contradição entre razão e emoção é entendida como uma questão ligada aos ideais que temos de masculinidade e feminilidade (Lutz, 1998). 

Por isso que o emo tem uma particularidade tão importante na construção dessa masculinidade divergente, e não é só o fato de estes meninos usarem maquiagem e calças apertadas, (muitos fizeram isso antes) mas sim essa repaginada no sentido da expressão emocional. Pra quem era de fora, essa expressão era vista com desdém, como uma fraqueza, uma quebra dessa virilidade esperada, mas existem relatos de integrantes das bandas que mostram que para eles, aquilo era na verdade uma demonstração de força, afinal é preciso muita coragem para confrontar seu interior turbulento, e expor essas angústias a público, Didi-Hubermann (2016).

Então, se, “qualquer discurso sobre emoção é também, pelo menos implicitamente, um discurso sobre gênero” (Lutz, 1988), é imprescindível notar a importância que essa discussão a respeito das emoções teve enquanto fator construtivo desta masculinidade não-hegemônica, que permitiu a esses meninos emos uma vivência mais flexível de suas masculinidades.

 Por Ana Luiza Monteiro, @anammontt


Para saber mais:

ABRAMO, Helena W.. Cenas juvenis: punks e darks no espetáculo urbano. São Paulo: Scritta, 1996.

BISPO, R.; COELHO, M. C.. “Emoções, gênero e sexualidade: Apontamentos sobre conceitos e temáticas no campo da antropologia das emoções”. Cadernos De Campo, vol. 28, nº 2, p. 186-97,  2019.

DIDI-HUBERMAN, Georges. Que emoção! Que emoção? São Paulo: Ed. 34, 2016.

LUTZ, Catherine. Unnatural Emotions: Everyday Sentiments on a Micronesian Atoll & Their Challenge to Western Theory. Chicago: The University of Chicago Press, 1988.

MARKARIAN, Taylor. From the Basement: A History of Emo Music and How It Changed Society. Florida: Mango, 2019.

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