Fon-Fon: “leve e ágil” como a vida moderna
Em meio a reconfiguração dos hábitos, costumes e espaços no Brasil, engendrada a partir dos novos padrões de “vida moderna” e pelos exemplos europeus, é visível o papel desempenhado pela imprensa nos primeiros anos do século XX. Ela se modificou, acompanhando as mudanças ocasionadas pelas novas tecnologias e pelos novos gostos de seu público leitor, bem como atuou na transformação de comportamentos e leituras de mundo. Vide as revistas ilustradas, publicações deste período, de leitura fácil e agradável, de conteúdo diversificado e que recorriam amplamente às imagens. Ao articularem caricaturas, reportagens e fotografias, estas revistas, também chamadas de “mundanas”, propiciavam seções diversificadas, voltadas cada vez mais ao público feminino, focadas em suas necessidades, na ampliação de seu consumo e com a oferta de temas/assuntos considerados próprios desse sexo: moda, etiqueta, maternagem, fofocas e conselhos médicos. Dentre essas revistas, destacamos a Fon-Fon: semanário alegre, político, crítico e esfusiante. Este periódico semanal carioca, criado em 13 de abril de 1907 e que circulou até agosto de 1958, sempre aos sábados, informava aos seus leitores e leitoras tudo o que era a última moda em Paris, bem como registrava a “vida mundana” da sociedade carioca em notas sociais e charges. Em suas páginas, para além desses registros, o esforço em significar os novos tempos, produzindo/reproduzindo a modernidade carioca e, juntamente a ela, representações do feminino. Não por acaso, em seu subtítulo, a definição do que correspondia a cada uma das partes de seu público leitor: aos leitores tudo o que era “político” e “crítico” e às leitoras o que era “alegre” e “esfusiante”, construindo, assim, a partilha de gênero, atravessada pela concepção de complementaridade entre os sexos. Deste modo, a revista procurava estar em dia com o que ocorria no país e no mundo, mas, sobretudo, estar à frente das mudanças, produzindo necessidades e prescrevendo regras, ditando moda, formando opinião pública sobre modernidade e comportamentos sociais generalizados.
Por Fabiana Macena, @macena826
Para saber mais:
LUCA, Tânia Regina de. História dos, nos e por meio dos periódicos. In: PINSKY, Carla B. (org). Fontes Históricas. São Paulo: Contextos, 2004.
MACENA, Fabiana Francisca. Madames, mademoiselles, melindrosas: “feminino” e modernidade na revista Fon-Fon (1907-1914). Dissertação (mestrado em História). Brasília: Universidade de Brasília, Programa de Pós-Graduação em História, 2010.
NEEDELL, Jeffrey. Belle Époque tropical: sociedade e cultura de elite no Rio de Janeiro na virada do século. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
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