Eufrásia Teixeira Leite: postura e sedução

 

Desenho de uma pessoa

Descrição gerada automaticamente com confiança média

 Eufrásia Teixeira Leite com 37 anos, Carolus Duran, óleo, 1887. Fonte: IBRAM, Museu Casa da Hera, 2015.


O retrato mais conhecido de Eufrásia Teixeira Leite é uma pintura a óleo que se encontra no salão vermelho da Casa da Hera, em Vassouras, e a representa enquanto vivia em Paris, é de 1887, mesmo ano do rompimento com Joaquim Nabuco. Ela ostenta seus 37 anos com altivez, postura ereta, com os cabelos presos aparentando serem curtos. Usa um vestido de baile em cetim branco com decote generoso que revela o volume do busto, pescoço alongado, sem joias, a alça pende provocantemente de seu ombro na direção do casaco de pele solto em seus braços. Como em seu retrato da juventude descrito no post anterior, Eufrásia utilizou os artifícios da moda a seu favor para realçar seu colo de maneira sedutora, mas igualmente destemida. Os anos vindouros constatarão que o casamento não era sua prioridade e pouco menos seria sua única oportunidade de realização social e econômica, dessa maneira, se busca a arte de seduzir, a utiliza com outros propósitos.

Eufrásia foi retratada no óleo pelo francês Carolus Duran (1837-1917), e isso nos faz recordar outra obra. O pintor teve como discípulo célebre John Singer Sargent (1856-1925), cujo quadro intitulado Madame X, que se encontra no acervo do Metropolitan Museum, de Nova York, causou polêmica no Salão de 1884. Nele vemos Madame Pierre Gautreau altiva olhando para a direita num vestido preto com um generoso decote em forma de coração, originalmente tinha uma das alças caída sobre o braço direito, de certa maneira semelhante a que Duran representou Eufrásia. Sargent precisou repintar a alça no ombro e manteve o título da obra num pseudônimo. Se houve audácia em representar uma mulher casada dessa maneira, podemos presumir, a partir das observações de Gilda de Mello e Souza em “O Espírito das Roupas”, que mais uma vez a solteira Eufrásia imprimiu sua figura de maneira desafiadora para a época. No retrato, Duran destacou seus encantos anatômicos com o vestido enfatizando o decote, parte do braço desnudo e sua silhueta vigorosa, enquanto preenche o campo abaixo com o casaco de pele criando uma base firme e segura. 

Por Flávio Bragança, @flaviobraganca 


Para saber mais:

BRAGANÇA, Flávio O. Nunes. O Valor da Réplica: a reprodutibilidade de trajes musealizados com base em projeto de investigação do acervo de indumentária do Museu Casa da Hera. Tese (doutorado). Orientadora: Priscila Faulhaber Barbosa. Programa de Pós-graduação em Museologia e Patrimônio, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO, Rio de Janeiro, 2021. 

INSTITUTO BRASILEIRO DE MUSEUS/IBRAM. Coleção Museus dos Ibram. Museu Casa da Hera / Eneida Queiroz, Daniele de Sá Alves, Cinthia Rocha. Brasília, DF: Ibram, 2015. 110p.

MELLO E SOUZA, Gilda de. O espírito das roupas: a moda no século XIX. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

WEINBERG, H. Barbara. John Singer Sargent (1856–1925). In: Heilbrunn timeline of art history: essays. Nova York, The Metropolitan Museum of Art, 2004.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Company: Moda, juventude e esporte nos anos 80

Varvara Stepanova: arte e moda na URSS

Bibba-Ipanema e a expressividade da moda