Eufrásia e Maison Worth: Sincronicidade

 

 Vestido veludo preto, Maison Worth, e reprodução em algodão. Fonte: Foto Flávio Bragança, 2018.

 

A investigação das etiquetas da coleção Worth no Museu Casa da Hera, da qual tratamos no último post, indicou que esses trajes foram produzidos após 1887. A análise das formas de algumas peças reforça a hipótese dessa datação do final do Século XIX.  

Um conjunto tailleur de montaria que apresenta casaco colarinho alto foi confeccionado em veludo roxo, mas atualmente aparenta marrom pela descoloração por incidência de luz, tem mangas bufantes na altura dos ombros e é provavelmente da década de 1890. Para Boucher (2010), no início da década de 1890 as mangas inflam para a forma presunto, com volume excessivo no braço em 1895. Inicialmente tailleurs eram confeccionados por alfaiates ingleses, mas na década de 1890 as maisons francesas, como a Worth, também introduziram a alfaiataria para atender a essa crescente demanda (HAYE; MENDES, 2014). Esse dado, somado a análise da silhueta, sugere a década de 1890 como datação.

Outro traje analisado é o vestido de baile de veludo preto com decote profundo que forma um laço pregueado no busto, a saia em formato sino, tem corte evasê com pregas na parte de trás e cauda do tipo altar. Esse vestido é liso e não apresenta brocados, nem bordados, o que torna a forma o ponto de interesse. Foi realizado o estudo dessa modelagem pelo Grupo de Pesquisa Design, Cultura e Memória, em 2017. Identificamos cinco vestidos da Maison Worth com forma semelhante no acervo digital do Metropolitan Museum - MET, de Nova York, e outro com características muito semelhantes no New York City Museum – MCNY, todos com delimitação cronológica de 1898 a 1900. Neste momento, já assinados por Jean-Philippe Worth.

O relacionamento de Eufrásia Teixeira Leite e Joaquim Nabuco terminou em 1887, eles só se reencontraram uma década depois na residência da Princesa Isabel, em Paris. Ele, mesmo casado e com filhos, a amparou no falecimento de sua irmã Francisca, em 1899. O recorte temporal dos trajes da Maison Worth inseridos na coleção é sincrônico a esses acontecimentos.

Por Flávio Bragança, @flaviobraganca 

 

Para saber mais:

BOUCHER, François. História do Vestuário no Ocidente. São Paulo: Cosac Naify, 2010.

BRAGANÇA, Flávio O. Nunes. O Valor da Réplica: a reprodutibilidade de trajes musealizados com base em projeto de investigação do acervo de indumentária do Museu Casa da Hera. Tese (doutorado). Orientadora: Priscila Faulhaber Barbosa. Programa de Pós-graduação em Museologia e Patrimônio, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO, Rio de Janeiro, 2021. 

DE MARLY, Diana. Worth: Father of Haute Couture. Londres, Holmes & Meier Publishers, 1980.

HAYE, Amy de la; MENDES, Valerie. The house of Worth: portrait of an archive. Londres, V&A Publishing, 2014.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Company: Moda, juventude e esporte nos anos 80

Varvara Stepanova: arte e moda na URSS

Bibba-Ipanema e a expressividade da moda