Eufrásia e Maison Worth: poder simbólico
Casaco Mantelet preto, Maison Worth, [s.d.], MCH. Foto: Carina D’Ávila, Fonte: UMBELINO, 2016.
As dez roupas pertencentes ao acervo do Museu Casa da Hera que apresentam a etiqueta da Maison Worth podem ser categorizadas em: trajes de montaria, casacos e capas, vestidos e robe. Um dos propósitos da pesquisa era indicar a datação das peças. A investigação das silhuetas correspondentes revela evidências do período, mas pode ser dificultada quando se tem na coleção muitas capas e casacos que não seguem a forma dominante da época. Assim, optamos primeiramente pela pesquisa histórica da etiquetagem da maison. É atribuído a Worth o pioneirismo em usar etiquetas em suas criações. O costureiro levou para a moda o que Bourdieu (2008, p.28) identificou como “a eficácia quase mágica da assinatura” que é o reconhecimento coletivo do poder de mobilizar a energia simbólica produzida pelo campo.
Quando Eufrásia Teixeira Leite chegou a Paris, em 1873, Worth passava por um processo de renovação de sua maison devido ao fim do Segundo Império (1852-1870), no qual detinha o monopólio do guarda-roupas da imperatriz Eugênia de Montijo. Em 1871 seu sócio fundador Otto Bobergh deixou o negócio. Até 1870, suas etiquetas apresentavam a inscrição "Worth & Bobergh/7. Rue de la Paix Paris” e o brasão imperial de Napoleão III. A partir de 1871, passou a exibir apenas “Worth Paris” em fontes tipográficas em caixa alta com serifas e uma estilização feita com o prolongamento da perna da letra R. Em 1887 a etiqueta foi modificada para a inscrição “C Worth” em letras cursivas pretas simulando a assinatura do costureiro, ladeada pela palavra "Paris" em contraste do brilho com o fosco do brocado. Todas as etiquetas da Maison Worth inseridas nas peças da coleção do MCH pertencem à tipologia que apresenta a assinatura de Worth. Logo, posteriores a 1887. Essa etiqueta foi mantida mesmo após o falecimento de Charles Worth, em 1895, quando foi sucedido por seus filhos Gaston-Lucien Worth (1853-1924) e Jean-Philippe Worth (1856-1926). Os trajes Worth da Casa da Hera correspondem a esse período de transição da maison.
Por Flávio Bragança, @flaviobraganca
Para saber mais:
BOURDIEU, Pierre. A produção da crença: contribuição para a economia dos bens simbólicos. 3. Ed. Porto Alegre, RS: Zouk, 2008.
BRAGANÇA, Flávio O. Nunes. O Valor da Réplica: a reprodutibilidade de trajes musealizados com base em projeto de investigação do acervo de indumentária do Museu Casa da Hera. Tese (doutorado). Orientadora: Priscila Faulhaber Barbosa. Programa de Pós-graduação em Museologia e Patrimônio, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO, Rio de Janeiro, 2021.
DE MARLY, Diana. Worth: Father of Haute Couture. Londres, Holmes & Meier Publishers, 1980.
HAYE, Amy de la; MENDES, Valerie. The house of Worth: portrait of an archive. Londres, V&A Publishing, 2014.
SVENDSEN, Lars. Moda uma filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 2010.
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