Emo, masculinidade, subculturas juvenis

 

 

 

Em meados de 2007, no Brasil, era difícil encontrar um adolescente que não conhecesse a música “Razões e Emoções” — single de maior sucesso da banda NX Zero — devido à sua grande disseminação nos meios midiáticos destinados ao público jovem. Isso se deu porque neste mesmo ano ocorria o “clímax” do emo, uma subcultura jovem que logo se tornou uma febre, chamando atenção pela peculiaridade com a qual lidava com questões emocionais, que acabaram por influenciar na vida dos jovens que se identificavam com o movimento.

Catherine Lutz (1988) aponta como, no ocidente, os conceitos que temos de razão e emoção estão diretamente ligados aos ideais que temos de masculinidade e feminilidade, respectivamente. Desta forma, o emo do sexo masculino poderia ser considerado uma personificação desta contradição, pois traz o homem, considerado inerentemente racional e moderado, que evita o contato com seu lado emocional a todo custo e o coloca de frente com uma subcultura onde o foco é justamente o contrário.

Por valorizar as emoções e as discussões em seu entorno, o emo concede ao jovem do sexo masculino um espaço no qual sua vulnerabilidade não é apenas aceita, mas encorajada, e oferece um ambiente seguro para a expressão emocional, permitindo assim o surgimento de uma opção de representação de masculinidade discrepante da hegemônica. 

Portanto, com o objetivo de entender como a estética e o comportamento do emo contestam os estereótipos másculo-hegemônicos, fundamenta-se a teoria de Judith Butler (1988) de que o gênero é uma prática cotidiana orientada por forças normativas. Assim, é possível enquadrar o emo como parte do que Butler descreve como corpos que conseguem escapar dos processos institucionais de uniformização, por agir fora da norma que é imposta ao “ser homem”, pondo em risco a própria coerência da masculinidade, ao passo que é homem de uma forma que, segundo a norma, não se deve ser homem, seja pela questão visual ou emocional.

Por Ana Luiza Monteiro, @anammontt

 

Para saber mais:

ABRAMO, Helena W.. Cenas juvenis: punks e darks no espetáculo urbano. São Paulo: Scritta, 1996.

BISPO, R.; COELHO, M. C.. “Emoções, gênero e sexualidade: Apontamentos sobre conceitos e temáticas no campo da antropologia das emoções”. Cadernos De Campo, vol. 28, nº 2, p. 186-97,  2019.

BISPO, Raphael. Jovens Werthers: Antropologia dos Amores e Sensibilidades no mundo Emo. Rio de Janeiro: UFRJ/ Museu Nacional/ PPGAS, 2009.

BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão de identidade. 6 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2013.

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