Corpo, moda e homoerotismo na G Magazine

 

 

A G Magazine foi uma revista homoerótica que circulou de 1997 a 2013. Com 176 edições, se consagrou por utilizar de estratégia semelhante a Playboy: despir personalidades que circulavam pela mídia brasileira. Além dos corpos e personas, as roupas tinham o papel fundamental de construir e transmitir as narrativas e fantasias visadas pela revista. Diálogos e negociações eram traçados para evitar uma extrema “vulgarização” e também ao estabelecer que partes do corpo seriam acentuadas, e outras, escondidas.

Mecânico, pedreiro, bombeiro e outras profissões normalmente ligadas à ideia de “masculino” aparecem com frequência na pornografia gay, tensionando os limites entre a masculinidade hegemônica e as sexualidades dissidentes. Os modelos que estampavam as capas tinham suas próprias profissões, como atores, atletas, cantores, que eram utilizadas para instigar o desejo do consumidor, a fim de consumir aqueles corpos anteriormente inalcançáveis devido à aura da fama; reforçando, ainda, o status de “famoso” do modelo como forma de instigar o desejo e consumo. Deste modo, a fantasia se torna a persona pública, em que roupas e acessórios consolidam esta relação entre leitor e consumidor, aproximando e distinguindo ambas as partes.

A capa do jogador Vampeta é exemplo: ele aparece sem camisa, utilizando somente os shorts com cores que remetiam ao seu clube na época, o Corinthians. O então ator Alexandre Frota é retratado como bad boy, vestindo correntes, sem camisa, tatuagens, músculos a mostra e expressão fechada. Matheus Carrieri, conhecido por seus papeis de mocinho, é retratado de forma quase angelical. O ator está nu, sentado frente a um fundo azul, de forma a tampar sua genitália, com olhar inocente voltado para a câmera. Esnar Ribeiro, peão e apresentador, veste sunga, cinto com fivela e chapéu de vaqueiro, no melhor estilo cowboy erótico.

Existe uma negociação entre a ideia de masculinidade hegemônica e o desejo homossexual, onde estas barreiras são articuladas para criar fantasias e objetos de desejo e para as quais roupas e acessórios são importantes mediadores.  

Por  Eric B. Fraga, @eric.gif

 

Para saber mais:

BUTLER, Judith. Bodies that matter: On the discursive limits of “sex”. Londres, Routledge. 2011.

CORNELL, Robert. Masculinidade Hegemônica: repensando o conceito. Estudos Feministas, Florianópolis, 21(1): 424, janeiro-abril. 2013.

FRAGA, Eric B. Corpos em Exibição: imagens midiáticas e performances de gênero a partir das capas da revista G Magazine (1997 a 2001). Graduação em Ciências Sociais. Universidade Federal de Juiz de Fora. Juiz de Fora. 2021.

PINHO, Osmund. Race Fucker: representações raciais na pornografia gay. Cadernos pagu 38, janeiro-junho de 2012:159-195.

WILSON, Elizabeth. Adorned in Dreams: Fashion and Modernity. Londres, I. B. Tauris. 2003.
SONTAG, Susan. Sobre a fotografia. São Paulo. Companhia das Letras. 2004.

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