Alfaiataria: origens e desenvolvimentos


 Alfaiataria Verdi (Curitiba)


O ofício da alfaiataria é antigo. A história do termo é prova disso: alfaiate vem do árabe al-khaiiãT – aquele que une, que fia os tecidos. Em espanhol é sastre, que conservou a referência do latim sator. Esses termos, assim como taylor, em inglês, se fixaram entre os séculos XII e XIV, momento em que, na Europa, os profissionais de corte e costura agruparam-se nas primeiras Corporações de Ofício. 

Com o pretexto de assegurar a qualidade da profissão, essas instituições regulamentavam as condições de ingresso no ofício. O ensino era pago, mas o baixo custo da aprendizagem e do equipamento básico, em relação às outras carreiras, era algo importante a se considerar nas decisões das famílias da classe trabalhadora. Outro fator nessa escolha era a inaptidão dos meninos aos pesados serviços do campo. Na Europa, era comum a imagem que associava o alfaiate a alguém frágil fisicamente. Está aí toda a graça d’O Alfaiate Valente, que enfrentava gigantes, no conto dos Irmãos Grimm.

As formas austeras do terno, roupa por excelência da burguesia do século XIX, foram conquistadas pelo uso dos tecidos de lã e de algodão, em substituição ao brilho e à ostentação do cetim e da seda usados pela aristocracia. Os alfaiates ingleses, que estiveram à frente do desenvolvimento desse novo traje masculino, aperfeiçoaram as técnicas para cortar e moldar aqueles tecidos. Desde então, a cada inovação no mundo têxtil, os alfaiates buscam novas soluções técnicas. Um exemplo mais recente foi o surgimento da microfibra, no mercado brasileiro, na década de 90. Tecido sintético de fio extremamente fino, ela exigiu dos alfaiates novos aperfeiçoamentos para adaptá-la ao corte e entretelamento do terno. 

Trazida para o Brasil nos primórdios da colonização portuguesa, a atividade da alfaiataria foi se desenvolvendo aqui em meio ao desestímulo ao artesanato e à manufatura, por parte da metrópole portuguesa. Na atualidade, com o avanço dos processos de industrialização da confecção de roupas, a atividade enfrenta desafios no que diz respeito à transmissão de conhecimentos tradicionais ao mesmo tempo em que ganha novo fôlego em um mercado de luxo restrito.

Por Valéria Oliveira Santos, @valeria.oliveira.santos

 

Para saber mais:

BARBOSA, J.  Preservação dos saberes tradicionais do alfaiate. 287f. Dissertação (Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local). Centro Universitário UNA. Belo Horizonte, 2015.

LAVE, J. Apprenticeship in critical ethnographic practice. Chicago: University of Chicago. Press, 1993. (The Lewis Henry Morgan lectures).

POKRANT, R.J. The tailors of Kano City. In: GOODY, Ester N. (ed.) From craft to industry: The ethnography of proto-industrial cloth production. Cambridge: Cambridge University Press, 1982a. p.85-132

SANTOS, V. O. et al. Alfaiatarias em Curitiba. Curitiba: Edição dos Autores, 2009. 

SANTOS. V. O. Sob Medida: uma etnografia da prática da alfaiataria. 184p. Tese (Doutorado em Antropologia Social) Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Universidade de São Paulo. São Paulo, 2018.

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