A polêmica das jupe-culottes nas páginas de Fon-Fon
A moda foi uma das estratégias de luta encontradas por muitas mulheres para subverter representações/imagens que informavam comportamentos e papéis femininos. Não é à toa que, durante o ano de 1911, o uso das jupe-culottes (saia-calção) causou tanta polêmica, discussões e reações acaloradas nas páginas da revista Fon-Fon. O uso deste traje dividia a opinião pública e foi identificado com a modernidade e com o feminismo. Este último visto como um amontoado de propostas vazias, fruto das “cabeças ocas” das mulheres e sua insana pretensão de igualdade com o sexo masculino. Ao contrário dos vestidos, que salientavam as curvas femininas para o deleite dos observadores e funcionavam como um artifício de sedução, as saias-calção se aproximavam em demasia do vestuário masculino, logo, do domínio do público, pois ligado à eficiência do mundo do trabalho. Seu uso era percebido, portanto, como um primeiro passo, para se assemelhar, de algum modo, às funções eminentemente masculinas. Na relação estabelecida entre as jupe-culottes e o feminismo, o perigo discursivamente construído de uma revolução das “mulheres modernas” que se empenhavam em inverter a ordem, procuravam se apoderar dos papéis que não lhe pertenciam, que não eram “naturais” às mulheres, ameaçando a ordem patriarcal. Um estado de coisas que já parecia estar de ponta-cabeça, com as mudanças introduzidas pela modernização: muitas mulheres trabalhavam fora, transitavam livremente pelo espaço público, frequentavam bares, restaurantes, teatros. Eram os perigos da modernização e a revista se esforçava para desqualificar as lutas, as ideias e as ações feministas em seu movimento pela igualdade de direitos.
Por Fabiana Macena, @macena826
Para saber mais:
LAURETIS, Teresa de. A tecnologia de gênero.In: HOLANDA, Heloísa Buarque de (org.). Tendências e impasses: o feminismo como crítica da cultura. Rio de Janeio: Rocco, 2004.
MACENA, Fabiana Francisca. Madames, mademoiselles, melindrosas: “feminino” e modernidade na revista Fon-Fon (1907-1914). Dissertação (mestrado em História). Brasília: Universidade de Brasília, Programa de Pós-Graduação em História, 2010.
OLIVEIRA, Cláudia. Rio Femme – mulher Rio: a representação do amor e da sexualidade nas ilustradas cariocas Fon-Fon! e Para Todos... 1900-1930. ArtCultura, Uberlândia, v.10, n.16, jan.-jun. 2008.
SOUZA, Gilda de Mello e. O espírito das roupas a moda no século XIX. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.
Comentários
Postar um comentário