A criação de Passarela e o desejo da mulher moderna pt.3

 

 “Malhas caem nas malhas” Jornal do Brasil, 23/10/1962, Caderno B, Passarela, p.1


Finalizando a série sobre Gilda Chataignier e Passarela, um dos pontos que eram priorizados pela coluna era a elegância. Segundo Mara Rúbia Sant'Anna as novidades da moda, no início da década de 1960, vinham acompanhadas de uma elegância restrita e, em meados desse período, a tendência era ter o equilíbrio entre arrojo, originalidade e inovação, ou seja, a extravagância passava longe das pautas da moda. As questões relacionadas ao novo em Passarela ficavam por conta dos aspectos internacionais, fosse através da linguagem e do uso de termos internacionais para levar legitimidade à coluna ou das peças de roupas, além das formas que se dirigiam para a construção da mulher moderna. Como vimos anteriormente, o foco geográfico da redação da jornalista era Ipanema e a Zona Sul do Rio de Janeiro que contribuíram para essa construção de mulher moderna carioca e de classe média alta e do desejo de ser moderno. 

A mulher moderna e elegante teria de ter personalidade no vestir e no seu comportamento e, de acordo com Sant’anna “ser elegante exige muito autoconhecimento e um tanto de psicologia, inteligência, imaginação". O que Passarela dava às suas leitoras perpassava por esses critérios e a elegância, além da sofisticação e da originalidade, eram um privilégio de um grupo seleto e que poderia bancar por ela. Outra característica dessas mulheres  seria o bom gosto que, de acordo com Chataignier “quando a mulher tem bom gôsto — muito bem — não há que se preocupar com os exageros. Modéstia à parte, convenhamos que tôdas temos muito bom gôsto (eu e vocês minhas leitoras)”. Aqui, Passarela se coloca como legitimadora do bom gosto e bastaria acompanhar a coluna para não ter dúvidas sobre o que vestir e onde vestir determinada roupa.

Diante desses três eixos (internacionalidade, elegância e bom gosto), a Passarela se solidificou no Caderno B sendo publicada até 1969, ano em que Gilda Chataignier deixa a redação. A análise da coluna demonstrou que a ideia de modernidade, não está unicamente pautada pela novidade, mas também se relaciona com o tensionamento entre o passado e a experiência do novo.

 Por Juliana Assis, @juliana.assisb


Para saber mais:

BERNARDO, Juliana de Assis. Desvendando a imprensa feminina da década de 1960: Passarela e a construção da mulher moderna. In: ANPUH-RS, 16, 2022, Rio Grande do Sul. Anais Eletrônicos [...] Rio Grande do Sul: Porto Alegre, 2022.

SANT’ANNA, Mara Rúbia. Elegância, beleza e poder na sociedade de moda dos anos 50 e 60. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2014.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Company: Moda, juventude e esporte nos anos 80

Varvara Stepanova: arte e moda na URSS

Bibba-Ipanema e a expressividade da moda