A casa das fazendas pretas
A Casa das Fazendas Pretas na Avenida Central (atual Rio Branco), Rio de Janeiro. Foto de Marc Ferrez, ca 1906. Fonte: Gilberto Ferrez collection / Instituto Moreira Salles. Disponível em Google Arts & Culture
Estabelecimento comercial dedicado aos tecidos e artigos necessários ao luto e ao meio-luto, a Casa das Fazendas Pretas foi aberta em 1871, em um sobrado na Rua da Quitanda, no centro do Rio de Janeiro.
Pode soar estranho para nós, em 2021, uma loja que só vendesse produtos para o luto, mas durante o século XIX esse tipo de vestuário fazia parte de uma intrincada e rígida etiqueta social, que o considerava quase obrigatório. Os tempos do luto eram longos e as regras se aplicavam a todas as peças de indumentária. Ou seja: esse era um comércio bastante procurado, com demanda frequente e proveniente de todas as classes sociais.
Não foi à toa, portanto, que em pouco tempo a Casa das Fazendas Pretas passou por diversas mudanças, aumentando seu espaço físico, sua variedade de produtos e aprimorando seus serviços – como sua oficina de costura, que se encarregava de fornecer trajes completos em prazos cada vez mais curtos. Os tecidos e acessórios vinham da Europa, para onde o proprietário, Pedro de Siqueira Queiroz, viajava periodicamente.
A Casa das Fazendas Pretas ocupou imóveis em logradouros famosos, como a Rua dos Ourives e a Rua do Ouvidor, até que se instalou de vez na mais importante via do centro do Rio de Janeiro: a Avenida Central.
Lá, já sob gerência dos filhos de Queiroz, a loja firmou sua importância no comércio carioca. Ocupando um majestoso prédio de quatro andares na esquina com a Rua Sete de Setembro, com vitrines no térreo e elevador, chegou a ser comparada com o “Paraíso das Damas”, a ficcional loja de departamentos parisiense do romance de Émile Zola, publicado em 1883.
Manteve-se nesse endereço por três décadas, fechando suas portas em 1938. Sua história de mais de sessenta anos testemunhou a complexidade das regras do luto no vestuário oitocentista, assim como o processo de modernização da antiga capital federal.
Por Juliana Schmitt @ajulianaschmitt
Para saber mais:
SCHMITT, Juliana. A Casa das Fazendas Pretas, o comércio e o luto na segunda metade do século XIX. Anais do Museu Paulista. São Paulo, Nova Série, vol. 29, 2021, p. 1-28.
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