Moda e distúrbios alimentares

 

Kate Moss (4ª à esquerda) e outros modelos da coleção prêt-à-porter primavera/verão 1998 da Chanel


“Eu não diria que Kate Moss causa anorexia, mas tive uma anoréxica aqui ontem que falou

que queria ficar igual a Kate Moss”.

A frase replicada acima, dita por um especialista de uma instituição de distúrbios

alimentares de Connecticut, resume a complexidade da relação entre a moda e a ascensão de transtornos alimentares. A frase cita a supermodelo Kate Moss, que simbolizou uma drástica mudança no padrão de beleza da década de 90, representado pela silhueta magérrima como ideal.

Por mais que a magreza tenha dominado os cenários fashion durante todo século XX, Kate Moss ascendeu socialmente ao apresentar uma aparência famélica e andrógina, conduzindo a promoção de uma geração de modelos caracterizadas pela magreza extrema - contexto conhecido como “Heroin Chic”. A partir dessa conjunção e da grande propagação dessa imagem pela indústria da moda, o “Heroin Chic” se tornou um símbolo de beleza, inspirando inúmeras jovens e mulheres a se sentirem atraídas por esse padrão – que se opunha à própria forma “natural” de seus corpos. Por conseguinte, para se adequarem a essa complexidade irreal, muitas optaram por métodos não saudáveis e estimulando o desenvolvimento de distúrbios alimentares.

Apesar disso tudo, será mesmo possível culpar somente a moda pelo aumento do número de casos? Ou entregar a culpa ao setor midiático que tende a propagar padrões de beleza sem questionamentos? Ou, apontar o dedo em modelos pela influência direta em jovens, como é o caso de Kate Moss, que se tornou mártir de inúmeras alegações relacionando o seu nome à apologia à anorexia? Nesse cenário delicado, especialistas argumentam que é preferível procurar soluções plausíveis ao invés de tomar partido.  Pois, são infinitos fatores que desencadeiam o desenvolvimento dessas patologias.

A complexidade da origem desses distúrbios é muito profunda para resumi-los em apenas um cenário. Contudo, é impossível negar o impacto da exaltação do corpo magro, realizada pela moda durante anos, sobre o desejo inquietante e problemático dos indivíduos de se encaixarem nesse molde.


Por Laura Montesso, @auramontesso



Para saber mais:


CALLAHAN, Maureen. Champagne Supernova: Kate Moss, Marc Jacobs, Alexander McQueen e os rebeldes dos anos 1990 que reinventaram a moda. Rio de Janeiro: Fábrica 231, 2015. 

RICALTON, Emily Jade. ‘Heroin Chic’: A Movement that Changed the Appearance of Fashion. 2020. 

https://cardiffstudentmedia.co.uk/quench/fashion-and-beauty/heroin-chic-a-movement-that-changed -the-appearance-of-fashion/ 

DE ANDRADE, Mariana Bruno. MODA E CORPO: A INFLUÊNCIA DO PADRÃO ESTÉTICO EM DISTÚRBIOS ALIMENTARES. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2018. https://repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/33672/1/2018_tccII_mbdeandrade.pdf.pdf 

SOPHIA, Bianca Vasconcellos. O movimento Pró-anorexia e Pró-bulimia na internet: uma reflexão sobre as práticas alimentares, saúde e doença, corpo e identidade. In: Sociologia e política – I seminário Nacional Sociologia e Política, Anais, UFPR, 2009. 

https://www.yumpu.com/pt/document/read/12995263/o-movimento-pro-anorexia-e-pro-bulimia-na internet-uma 

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